quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Missionary Man - Day 2

Voo de avioneta para Bor, logo de manha cedo. Quatro passageiros mais carga. Voo tranquilo a baixa altitude, 40 min para norte... A selva africana, os pântanos, o Nilo Branco... algumas aldeias perdidas no meio do nada... é impressionante.

O aeroporto, melhor, o aeródromo, mais concretamente a pista de terra batida estava verdadeiramente movimentada entre avionetas e helicópteros de todos os tamanhos (Mi 6 a Mi 26... maior o número maior o tamanho) alguns dos quais só tinha visto na televisão, verdadeiras bestas de carga das várias organizações que estão no terreno. UN, WFP, CICR, MSF, etc, etc...

Se Juba era África profunda, Bor é ainda mais profundo. Não ha estradas alcatroadas, não há electricidade, e água depende...
Deixei as coisas no "hotel". Não consigo bem descrever... ha uma porta com chave e um quarto e uma cama e um mosquiteiro e uma casa de banho e uma ventoinha de tecto... Mas água e electricidade só de manha ou à noite.
Encontrei-me com a minha equipa. Anestesista, Italiana, 50s, algumas tattoos, batida nestas coisas, enfermeiro de bloco, Ugandês e enfermeira de enfermaria, Queniana, ambos já com larga experiência, Paquistão, Congo, Ruanda, Afeganistão...

Decidimos ir ao "hospital" fazer a visita medica aos doentes. O que posso eu dizer ? É como nos filmes, camas sem lençóis, suportes de soros improvisados com canas, tracções esqueléticas em cada esquina, um calor abrasador...

Passaram-me cerca de 10 casos. Desde fracturas da mandíbula com perda de osso até uma criança gravemente queimada, passando por inúmeros baleados em múltiplos locais o ultimo dos quais chegado na noite anterior com uma bala que lhe fracturou o colo do úmero...Decidimos operar 3 hoje  e 3 amanha, mais uns quantos pensos.

Peço para ligarem o gerador do hospital para que se possa por a luz do bloco a funcionar, porque sem luz, uma vez que é um espaço interior, não se vê nada. A minha anestesista a semana passada esteve várias horas a dar ao ambu...

Não consigo decrever o "bloco operatório"... Mas lá fizemos o que tínhamos a fazer com base em muita ketamina, valium, coragem e espirito de sacrifício. Acho que ficaram bem operados. Amanha veremos como evoluem.

Acabamos tarde. À frente do hospital um "bar" chamado "big dad". Teoricamente "seguro" ou seja " diarreia não obrigatoria"... Experimentei o kebab. A fome era tanta que me soube a bife do lombo.

A seguir, reunião com o director do hospital, para articular procedimentos pos-op, nomeadamente as tomas de medicação e apoio ao bloco. 

Amanha, continuamos. Na sexta de manha de partimos de helicóptero para o acampamento de Dorein. O meu pai tinha razão... não há nada de romântico nisto... apenas uma dureza indiscritível, no limiar das condições de trabalho. Ainda estou meio abananado com o dia de hoje.

1 comentário:

  1. GRANDE HOMEM..... que Deus te acompanhe sempre. Um verdadeiro missionário da bondade que leva o juramento de Hipócrates. Uma honra em te conhecer. Bem haja a ti a todos os teus.....

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