sábado, 24 de agosto de 2013

Missionary Man - Day 11

Ontem não houve rendição. As más condições atmosféricas em Bor impediram o helicóptero de levantar. Ganhámos um dia extra na selva.

As formigas amigas das outras da ultima noite perceberam a minha mensagem estilo napalm. Deram-me tréguas esta noite. Mas tive o despertador ligado para garantir uma nova dose de insecticida na tenda a cada duas horas. Dormir assim é no mínimo estranho...

Estamos no pico da estação das chuvas, numa região infestada de malária. Apesar da profilaxia e de todos os cuidados, estes mosquitos fazem-se desentendidos. Após uma semana, é inevitável não levar umas quantas ferroadas. Já perdi a conta, principalmente nas mãos. Tenho fé no Malarone... Mas faz-nos pensar... O período de incubação mínimo são 2 semanas... Pode ser que me safe.

Já na equipa do MSF, esta noite houve uma "baixa"... Febre, cefaleias, náuseas, vómitos, diarreia, artralgias, astenia intensa... só faltava um rótulo na testa a dizer Malária. Iniciámos o tratamento. Vamos evacuar para Juba. Este acampamento é provavelmente um dos piores locais imaginários para viver os primeiros 3 dias da doença. Na minha equipa já quase toda a gente teve malária nos últimos anos. A descrição da minha anestesista é reveladora... "No primeiro dia, tens medo de morrer... ao fim do segundo dia, tens medo de não morrer e continuar assim". Prefiro não saber.

Pequeno almoço tomado. Mochila feita. Aguardamos a chegada da rendição para passar os doente internados... 13 no total... mais uns quantos em ambulatório.

14h. O som do helicóptero ouve-se a quilómetros de distancia. Percebo agora a sensação dos que são resgatados no meio do nada. Ouvir este som a aproximar-se é música para os ouvidos. Já há vários anos que não voava num EC 155 Dauphin, desde os tempo do OST em Plymouth, onde as aterragens eram feitas à noite, em navios em andamento em pleno mar do norte. A grande diferença era que nessa altura envergava um fato de sobrevivência no caso de cairmos à agua, e aqui vou de manga curta :)  Estes pássaros são lindos...

Para trás deixo o meu inestimável instrumentista que agora irá acompanhar a nova equipa, que entretanto chegou desfalcada. Tanto quanto sei, o nosso reforço vem directamente do Canadá e já deve estar em Juba. Amanhã é outra vez dia de cirurgias e quando as equipas são de quatro, uma baixa torna-nos inop.

Já estou outra vez a sonhar com uma cama ou um colchão entre 4 paredes, lençóis, uma casa de banho... Não deixo de me surpreender com as coisas que valorizamos quando estamos no meio do mato... e eu não estou propriamente a regressar à civilização... Estou apenas a regressar a uma "cidade" que não tem ruas asfaltadas nem electricidade nem esgotos nem água canalizada... mas sabe tão bem !!!

Einstein tinha mesmo razão. Tudo na vida é relativo...






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