terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Mulheres pequenas...

Os meus pais têm 10 netos, distribuidos por 4 filhos.
A minha irmã tem 2 raparigas e 1 rapaz, o meu irmão tem 2 rapazes e 1 rapariga, a outra irmã tem 1 casal... tudo muito equilibrado portanto, mas eu tenho 2 raparigas... e pelo que me é dado a observar, esta é uma combinação diferente, muito diferente.

Eu vivo com 3 mulheres. Dito assim, até parece que Deus respondeu ás minhas preces, mas analisando o caso em profundidade, só me ocorre dizer, que se calhar, não me expliquei bem quando exprimi os meus desejos. É verdade que a adolescência passada num colégio interno só de homens, tem um efeito tipo "red bull"... dá-nos asas... mas Deus... não era bem assim que eu tinha imaginado a coisa. PS - Ainda vais a tempo de emendar ;)

Tenho em casa um quarto cor-de-rosa, o quarto das mulheres. Um homem nunca iria tolerar um quarto cor de rosa... mas duas mulheres...enfim. O quarto das mulheres tem armários e gavetas cheios de roupa de mulher pequena e algumas das peças, não me são familiares. Não fui treinado para vestir collants, saias ou vestidos. Homem que é homem, sabe despir... portanto quando me pedem ajuda, faço os possíveis, mas definitivamente não está na minha natureza. Tentem sentar uma mulher ao colo e vestir-lhe uns collants... é um processo contra-natura. Escovar o cabelo, ainda vá que não vá... mas colocar ganchos é ter a certeza que na escola percebem logo quem as vestiu pela manhã. Eu bem as tento enganar, dizendo que o facto de o cabelo ficar em pé ou aparentemente assimétrico é "fashion" uma palavra a que elas habitualmente são sensíveis, mas ultimamente percebi que toleram o meu mau jeito sem grandes argumentações e depois, sozinhas, sem que eu esteja a ver, ajeitam aquilo à sua maneira. Já com a roupa, desisti de argumentar. Levem o que quiserem, porque sinceramente, ás 7h da manhã não há paciência para discutir roupa e tentar demonstrar que sim, que os sapatos têm uma risquinha azul, mas que esta combina com o vestido e com a fita e com as unhas! HELP!

Também já aprendi que as mulheres pequenas, ao contrário do que parecem, não são mulheres grandes em miniatura, são uma espécie à parte, estão em evolução. As mulheres com menos de 10 anos não são mulheres, são princesas, com tudo aquilo a que têm direito, vestidos com rendas, varinhas mágicas para espetar nos olhos, sapatos de salto que fazem barulho e tiaras de plástico para espezinhar e partir em mil pedaços. Uma princesa não pede nada ao pai, ela tenta sim, seduzir o pai, ao ponto de querermos desesperadamente dar-lhe o que quer que ela deseje, como se no fundo a ideia inicial fosse nossa. As princesas marcam o seu território na casa, como se de um reino se tratasse. Não o fazem da forma convencional, mas com bonecas, ganchos, elásticos, fitas para o cabelo, escovas, acessórios de bonecas... e tudo aquilo que nos dê a sensação de que passou um tornado lá em casa. Não será portanto de estranhar, encontrar um mini salão de cabeleireiro no hall de entrada, um dormitório de bonecas no escritório, um supermercado na sala ou a casa de banho transformada numa enorme linha de lavagem e secagem de cabelos de bonecas. Faz tudo parte de um elaborado plano cujo objectivo ultimo é tomar conta da casa, de todas as divisões, sem excepção.

As princesas pintam-se... muito, e perfumam-se ainda mais. Pintam tudo o que esteja ao alcance do braço e como tal não se limitam à cara, ás paredes ou aos sofás. A pintura é uma forma de expressão e elas levam isso muito a sério... ah, e não vale a pena resistir. Se elas quiserem experimentar as várias tonalidades de batom na boca do pai, o melhor é fingir que entramos em coma e esperar que passe, ou que eventualmente o batom se acabe, o que não é raro porque elas tendem a carregar.

As princesas têm uma dificuldade enorme em ver alguém sentado a ver televisão. Há qualquer coisa naquelas cabeças, que entende que um homem sentado, só pode estar à espera de espectáculo, portanto é quase certo que mais cedo ou mais tarde, há passagem de modelos, com as roupas e acessórios da mãe, ao som de uma qualquer musica improvisada e com uma coreografia habitualmente muito desajustada à idade. Se se sentam a vêr televisão, optam tradicionalmente por uma qualquer série juvenil na linha da Hanna Montana, dobrada em Português, ou uma típica novela portuguesa com muito drama, traição e ciúme. Assustam-se com cenas de tiros e pancadaria, mas arregalam os olhos se vêm um homem a beijar uma mulher e em menos de nada já querem saber tudo sobre beijos com lingua e respectivos amassos, incluindo o porquê das cegonhas e dos cegonhos.

Invariavelmente, a hora do banho, é mais complexa do que seria com um rapaz... não que haja mais coisas para lavar, pelo contrário, há é mais coisas para experimentar, e não vale a pena dizer que hoje não é dia de lavar o cabelo... está ali o amaciador, é para ser usado.

Ou seja, eu estou a criar mulheres que um dia vão viver com alguém, que eventualmente as vai amar por aquilo que elas forem, e não por aquilo que elas foram. Por aquilo que elas são, amo-as eu!





3 comentários:

  1. Olá Nelson Olim
    Achei muito divertido e enteressante o seu conto, ou melhor, a sua dissertação sobre a infância feminina.
    PAarabéns.
    Liliana Josué

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    1. Olá Nelson, adorei o texto, a minha experiência é precisamente ao contrário! Tenho 4 homens em casa:3 filhos e um marido!!!

      Obrigada
      Bárbara Carmona

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