sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Fixações :)

Há uma linha que separa a loucura da sanidade, o hábito da obsessão e a dor do prazer. É uma linha muito, muito ténue… e para quem como eu, a roçar os 40, começa a ter dificuldades de visão ao perto, esta linha é praticamente invisível. Correndo o risco de ser mal interpretado devido à inevitável generalização, aquilo que não se vê tem grande probabilidade de não existir, excepção feita a algumas pessoas, que não se vêm, mas sabemos que estão lá, talvez.

Tenho em casa, uma mulher adulta, com 34 anos, aparentemente saudável e em vias de se doutorar. Academicamente brilhante, esta mulher tem uma fraqueza… pelo menos que eu saiba. A fraqueza dela está num pequeno corredor de uma grande superfície comercial, a Staples, essa verdadeira meca do material de escritório, e derivados. Convenhamos que não é um corredor qualquer… não é o corredor dos envelopes, dos dossiers, das impressoras ou dos telemóveis…é o corredor mais maravilhoso de toda a loja, o corredor das canetas e das borrachas, uma verdadeira montra de utensílios que permitem a escrita e a respectiva emenda. Ali, tudo alinhado e pendurado, como que a pedir, toca-me, experimenta-me. Ela chama a esse corredor, o seu lugar de conforto. Ali, o tempo pára, faça chuva ou faça sol, ali é sempre primavera. Há que ver todas as canetas… as grossas e as finas, a cor, o peso, o comprimento, a zona onde os dedos de apoiam, o traço, o mecanismo de abertura, a estética geral…e há as borrachas, as borrachinhas, as borrachonas, brancas, verdes, cor de rosa, macias, duras, com e sem cheiro, redondas, rectangulares, quadradas… uma panóplia de opções com um objectivo único, escrever bem, e apagar, com estilo... ou antes, com prazer.

Há já algum tempo que conhecia esta sua fraqueza, mas agora mais recentemente percebi que não era caso isolado. Peguei no telefone, e fiz um pequeno inquérito junto dos meus amigos e familiares. A amostra é representativa e inclui Continente e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Os resultados, mostram bem que a tal linha… já era.

Há quem se perca na FNAC…na zona dos livros, mas depois uma qualquer força invisível encarrega-se de a desviar para na zona dos bloquinhos, dos caderninhos, lindos, queridos, daqueles que dá vontade de ter para escrever, ou só para olhar. Há os brancos, com linhas, com quadrados, tipo agenda, de capa dura, de capa mole, com argolas, sem argolas, com padrões, com cores, com fita marcadora, sem fita marcadora, com elástico, sem elástico, com molinha, sem molinha, A5, A6, A7… são tão lindos que quem os compra, não precisa deles, não os quer para escrever, simplesmente quer, e é tão bom ter…É um pequeno conforto.

Há quem se perca na Acessorize… correndo o risco de perder uma hora inteira de almoço, a ver tudo, tudo, tudo… e no fim sai de lá com um sorriso nos lábios e sem nada na mão, como se o simples facto de poder admirar os bloquinhos de post-it, com ursinhos, com veadinhos, com folhinhas de Outono, alimentasse o estômago. Ás vezes compram… acessórios, que depois não acessoriam nada, porque não dão com nada, porque não servem para nada, ou porque simplesmente são tão giros que seria uma pena usar, e isso seria deturpar o princípio subjacente a esta pequena loucura.
A minha irmã mais nova, que também se perde na Acessorize, consegue ainda bater o recorde da mais longa permanência voluntária num espaço confinado, com cerca de 2m x 2m… uma muito, muito, pequena loja, cheia de velas e sabonetes feitos à mão... Não há muito por onde circular. Praticamente a pessoa roda sobre o seu eixo como se de um ponteiro de relógio se tratasse… obviamente, para ela, é como se fosse o ponteiro das horas, roda lentamente, e no fim, bem, no fim não precisa de velinhas nem de sabonetes… mas sabe tão bem.

Tenho uma colega que mora num apartamento, não tem quintal, tem uma pequena varanda com alguns vasos. Ela adora um determinado corredor do AKI. Ela não só adora, como efectivamente compra naquele corredor. Compra máquinas de jardinagem, daquelas para podar sebes, para aparar os canteiros… e sei que em tempos esteve mesmo para comprar um daqueles carinhos corta-relva, não que ela tenha relva na varanda… mas são tão giros, e dá mesmo vontade de andar ali de um lado para o outro a cortar a relva…

Hoje estou plenamente convicto que a maioria das pessoas que ler isto, vai tentar identificar o seu lugar de conforto. Aquele lugar onde ficamos literalmente estúpidos, esbabacados, zen. Aquele lugar onde contemplamos os objectos expostos como se realmente precisássemos deles… não para o fim a que se destinam… mas porque queremos, porque desejamos... porque são giros, ou queridos ou fofinhos, ou cheiram bem... enfim, porque sim.

Eu também tenho o meu corredor… e quando penso sobre isso não tenho grandes dúvidas. Não é nada de especial, aliás raramente é. Fica algures no Aki, ou na Leroy Merlin… é um pequeno corredor de ferragens… e nas suas prateleiras, tem os mais variados sistemas… de fixação! Eu sei que são essencialmente buchas e parafusos… mas eu gosto… e ás vezes compro… um dia posso precisar ;)

Quem se atreve a confessar ?!


5 comentários:

  1. Humm, também há aquelas maravilhosas "perfumarias" como a Sephora....
    OMG.... cheirinhos, sombras, batons, vernizes (nem posso usar!), de todas as cores.
    Cremes para a cara, o corpo, pés, mãos, etc.
    Confesso... é aqui o meu local de conforto!!
    Melhor, pode-se experimentar, cheirar..... o paraíso!!! :)

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    1. Será que isto é mesmo uma cena de mulheres ?

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    2. Não!
      Todos os homens têm uma...
      Só que não vêm aqui dar a cara.
      :)

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  2. Decididamente papelarias!
    Blocos, blocozinhos, livros comerciais, de facturas, cartolinas coloridas, folhas variadas,lápis, inúmeras minas de grafite dentro de caixinhas pequeninas tão queridinhas, outras caixinhas com clips ou elásticos, molas,panóplia de tintas para arte (cores, tons, acrílicos, pasteis, aguarelas, guaches, tintas-da-china) e conjuntos intermináveis de pincéis.
    E os esquadros, réguas, transferidores, compassos? e outros objectos que não faço ideia para que servem?
    Nunca fui dada a artes, sou mesmo uma negação, não consigo desenhar um círculo nem com compasso, ia chumbando a Desenho no liceu... Não compro nada mas apetece comprar tudo.
    E o cheiro de uma papelaria, meu Deus, que tentação!

    Igualmente alucinante é um alfarrabista, mas aí perco-me a comprar, não posso visitar muitos com dinheiro na carteira! E também tem cheiro... que dá cabo da minha rinite alérgica. Espirrando mas feliz!

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