quinta-feira, 12 de março de 2020

O copo meio-cheio

Estamos naquele ponto de saturação onde já ninguém pode ouvir falar de #$%&#-19 e no entanto mais do que nunca é importante falar sobre o medo, a realidade, e a esperança.

Nos últimos dias várias pessoas me têm perguntado se mantenho o meu optimismo em relação ao que se está a passar, e a resposta é invariavelmente a mesma. Sim, acredito que não vai ser o fim do mundo. E não, não estou a desvalorizar os factos, mas sim a colocá-los em perspectiva. 

Revoltei-me contra o papel da comunicação social enquanto veículo do medo, e mantenho a opinião de que encontraram um filão de audiências que vai durar umas largas semanas. No entanto, já vejo por entre alguns jornalistas um esforço crescente para combater a desinformação e mais do que fornecer números, prestar informação útil a quem dela realmente precisa. Mas infelizmente, nos dias que correm, propagar a realidade, não chega.

A realidade nua e crua é no mínimo um gosto adquirido, e não é algo para a qual a maioria das pessoas esteja minimamente preparada ou equipada para interpretar. Aquilo que até há bem pouco tempo era um léxico quase exclusivo dos profissionais de saúde, quartos de pressão negativa, ventilação assistida, quarentena, isolamento, curvas epidemiológicas, solução alcoólica, hoje faz parte do quotidiano e das conversas de grande parte da população. Mas será que esta injecção forçada de realidade, de novos conceitos,  de novos medos está devidamente digerida ? Não me parece.

Levei vários anos, até que um copo com água pelo meio, me parecesse um copo meio-cheio. Durante muito tempo via os copos meio-vazios. Do ponto de vista meramente técnico, aquilo a que chamarei a realidade, o copo, de facto, tinha água pelo meio, mas aprendi que não havia qualquer vantagem em vê-lo meio vazio... pelo contrário. A ideia do vazio é como uma âncora que não nos deixa partir, impede-nos de ver mais além.

Reportar esta pandemia de forma nua e crua como vejo todos os dias, com números exactos que crescem a cada hora tem exactamente o mesmo efeito. A maioria das pessoas verá o copo meio vazio, e não há como escapar, é inato. Estamos a trazer à superfície o que há de pior da espécie humana... o egoísmo, o medo e a agressividade.

Portanto, vou continuar neste meu canto, a ver as coisas da seguinte forma: há 1,4 mil milhões de pessoas na China que não foram infectadas e o número de novos casos continua a diminuir de dia para dia. Há 60 milhões de Italianos que não foram infectados. Dos que se infectaram, e especialmente aqueles com mais de 80 anos, 86% estão em casa com os filhos e com os netos a ver televisão. As crianças continuam a não desenvolver doença grave. O número de infectados em Portugal ao dia de hoje não enche um autocarro da Carris. Somos 7 mil milhões de pessoas na terra, mas o número de infectados em todo o planeta, ainda não enche o maior estádio de futebol do mundo, e o número total de mortos até hoje, é inferior ao número de pessoas a bordo de alguns navios de cruzeiro. As medidas tomadas pelas autoridades de saúde em Portugal têm conta peso e medida. Há erros, mas há também lições aprendidas, e temos capacidade técnica para lidar com este surto, mesmo com os recursos disponíveis. Haverá escolas fechadas e tele-trabalho, mas há quanto tempo não têm tempo de qualidade com os miúdos ? Há quanto tempo não lêem um livro em conjunto ?  Façam isso ! Lavem as mãos como os cirurgiões ! E pensem que há meio mundo a investigar uma vacina, e outro meio mundo a trabalhar na cura. 

Lembro-me, aqui há uns anos atrás, daquela onda de patriotismo futebolístico que uniu todos os Portugueses á volta de uma ideia, de um sonho, de uma vontade de vencer... bandeiras em cada janela... esperança em cada esquina... Será que não é esta a hora para levantar a cabeça ? Acordem porra ! O copo está meio-cheio !!!






2 comentários:

  1. Carissimo Amigo Nelson,de facto ha neste momento milhares de seres humanos nomeadamente na ciencia,medicina a trbalhar sem cessar para salvar doentes e encontrar a cura. . Este e o foco e a espetanca,confianca,na especie humana.
    Mas nao deixa de ser preocupante e temos de ser sensiveis ao sofrimento e dramatismo de muitos casos e a dificeis escolhas que os medicos ,especialmente em Italia tem tido que enfrentar..
    Let,s Fight and Learn.
    Grande beijinho.
    MManuel.😃😃😃😃

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  2. É tão fácil gerar o pânico e depois tão difícil geri lo! Faço tuas as minhas palavras! Afinal foi tudo dito, e com uma objetividade muito rara nestes dias!
    beijinho enorme

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