Preferia mil vezes não ter que escrever este texto, e só o faço porque o tema toca algo que considero um direito pessoal e intransmissível, a vida humana e a sua dignidade.
É importante começar por dizer que esta é uma questão de carácter filosófico, e como todas as questões filosóficas, podemos todos argumentar, mas não há certo nem errado. Há apenas opiniões, mais ou menos sustentadas num quadro de crenças, valores e conhecimento de causa.
É indiscutível o facto de que viver é uma opção. Qualquer pessoa pode optar por terminar a vida, quando bem entender e da forma que entender, sem que para isso tenha que pedir autorização ao estado. Da mesma forma, o estado não pode condenar essa decisão. Que ridículo seria um texto legal com a seguinte forma: "Pelo crime de suicídio, o réu é sentenciado a 2 anos de prisão".
Partindo portanto do pressuposto de que a opção de viver é pessoal, e por inerência, também o direito à morte, coloca-se aqui a questão do papel do médico. Ora os médicos são seres humanos tal como os doentes, e são todos diferentes entre si, tal como os doentes. Dito isto, aquilo que aqui escrevo, é a minha opinião pessoal como médico, num país onde a liberdade de expressão ainda é possível.
Serei contra a eutanásia, no dia em que toda as patologias tiverem cura. Até lá, acredito que, no quadro clínico adequado, a vontade do indivíduo na posse de todas as suas faculdades mentais deve ser respeitada.
Infelizmente, e falo por experiência própria, eu e outros médicos, somos confrontado com inúmeras situações nas quais, por doença ou traumatismo, a qualidade de vida e a dignidade humana ultrapassaram o limiar do tolerável para esse mesmo indivíduo.

Enquanto médico, jurei respeitar a vida e aliviar o sofrimento. Mas o que fazer quando não podemos atender aos dois em simultâneo ? O que fazer quando a medicina nada mais tem a oferecer e o doente pede para acabar com a tortura ? E se o pedido vier de alguém que amamos muito ? E se for aquele doente com quem temos o privilégio de uma relação aberta, franca, e de total confiança ? E se o doente formos nós próprios, médicos, conhecedores do que nos espera... ? Vamos obrigar a pessoa a um sofrimento para o qual não temos solução ? em nome do quê ???
Acredito piamente, que obrigar alguém a viver contra a sua vontade, num cenário sem opções, devia ser um crime, tal como a tortura o é, mas infelizmente, a nossa herança judaico-cristã (que, diga-se de passagem, tanto torturou no passado), na melhor das hipóteses, tolda-nos o pensamento. Somos quem somos, fruto da nossa cultura e referenciais de valores.
Talvez porque decidi dedicar a minha vida à causa humanitária, tenho o privilégio de ser constantemente exposto a outras formas de ver a vida, o sofrimento e a morte. Acho que dar a opção de uma morte digna quando nada mais há a fazer, e é a vontade expressa pelo doente, é revelador de uma sociedade evoluída que se preocupa com os seus cidadãos.
Não tenho filiação partidária nem clubista. Não posso, nem nunca ousaria falar por todos os médicos. Tenho bons colegas e amigos, excelentes profissionais que muito prezo, que não concordam comigo, mas como comecei por dizer, pode não haver certo nem errado, mas é importante que haja, o direito de optar.
❤️
ResponderEliminarConcordo inteiramente com a opinião aqui manifestada pela autora.
ResponderEliminarÉ mesmo isto e tão bem escrito de coração, com o coração , com respeito e dignidade para com todos, mesmo com os que não concordam. Fico muito feliz por existirem pessoas assim que manifestam a sua opinião sem desrespeito por ninguem.
ResponderEliminarE é isto!! Obrigada pelas suas palavras
ResponderEliminarNão Concordo. Só Deus nos Tira a vida quando assim o entender.
ResponderEliminarNão concordo Deus nos dá a vida só Ele a pode tirar
ResponderEliminarDesse ponto de vista, não deu mas emprestou... E é sadismo dele fazer a pessoa sofrer ainda antes de chegar ao inferno?
EliminarPenso assim ,mas devido a está educação judaico-cristã,sinto culpa.Mas o sofrimento me comove e me doí.E ninguém merece viver em sofrimento.
EliminarDeus deu-lhe vida, esqueceu-se foi de dar-lhe um cérebro!!!
ResponderEliminarCérebro não tens tu.
EliminarPalavras sábias sem ofender e respeitando todas as opiniões.
MORRI A RIR
EliminarSó existe direito de optar quando existe opção. No panorama da saúde em Portugal existem cada vez menos recursos para as pessoas em fim da vida para que elas possam exercer o direito de optar. Triste país este que não havendo cuidados aos doentes terminais, só tivesse para oferecer a pílula sem dia seguinte.
ResponderEliminarNa imperfeiçao da disputa pelo certo e pelo errado, contrariamente á decisao de poder ser possivel optar, um texto perfeito em todas as suas palavras . Obrigada
ResponderEliminarQuer dizer que só se morre com dignidade com Eutanásia? E se a pessoa quiser morrer naturalmente, não tem dignidade? Tal como o aborto não deve ser método contraceptivo, a doença e o sofrimento infelizmente fazem parte da condição de se ser Humano. È inerente á condição humana todas estas coisas. Acho que cada um deverá poder optar pelo que melhor se enquadra num determinado contexto (muito especial e verdadeiramente excepcional), mas nunca deverá ser colocado as coisas no patamar tipo, ou aceitas a eutanásia ou és um mau cidadão, que parece ser agora a forma de colocar os assuntos. Esta radicalização de opiniões não é correcta.
ResponderEliminarMas quem é que disse isso? Neste momento a questão que se coloca é sobre a legalização da eutanásia e é sobre esse assunto que este texto se debruça.
EliminarSe a eutanásia for aprovada apenas significa que a pessoa com uma doença terminal/sem cura, em sofrimento e com sanidade para decidir pode escolher se quer morrer (com dignidade e de uma forma indolor) ou não, sendo que acredito que deverá haver imensas razões para as pessoas quererem continuar a viver numa situação assim, mas continuam com a liberdade para escolher e isso é o mais importante.
Concordo plenamente e agradeço a pessoas tão sabias e humanas como este senhor.só quem já sofreu muito dá valor. se eu chegar a um ponto desses tambem a prefiro.
EliminarVale a pena ler a entrevista que a dra Andreia Cunha deu à RR, sobre o que se passa na Bélgica :eutanásias ilegais, as autoridades sabem e não fazem nada
EliminarNada mais a acrescentar! Um texto mais-que-perfeito. Obrigada pelas suas palavras, obrigada pela maneira correta como são ditas sem ferir outras opiniões que não as suas. Eu partilho da mesma opinião, todos devemos ser livres para decidir das nossas vidas!
ResponderEliminarDeus nos dá a vida? Qual Deus?, ainda acreditam no pai natal?!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarGostei muito deste artigo. Parabéns pela sua excelente apresentação.
ResponderEliminarRaciocínio correcto, mas enferma de um defeito profissional: coloca a eutanásia exclusivamente no plano da dor e do sofrimento patológico do "paciente". Mais, parece conceber a tradição judaico cristã como um fardo. Atentar contra si pode ser um acto racional, sem implicar dor ou sofrimento, no sentido médico-biológico. Aconselha-se a leitura de Jean Améry...��
ResponderEliminarArtigo suficientemente bem elaborado e ao qual nada terei a acrescentar, a não ser que só quem estiver de má fé o não entende e sobre ele reflete.
ResponderEliminarNão podia estar mais de acordo.
ResponderEliminarQuando chegamos junto da pessoa que faleceu e só têm pele e ossos pois esteve um ano a levar tratamentos morfina e eroina pois não estava na sua sanidade mental. Será que merece tanto sofrimento ela e quem todas as noites lhe ia dar o jantar a um hospital com cuidados paliativos
ResponderEliminarMt bem! E deus dá vida às doenças pra fazer sofrer até qd quiser, Gd maluco!!!����������
ResponderEliminarAgradeço o texto honesto e esclarecedor. É preciso que se entenda que ninguém pode ser obrigado a optar pela eutanásia, como ninguém é obrigado a fazer um aborto. É uma opção que não deve ser negada a quem conscientemente e em liberdade de consciência assim o decidir. Antigamente no campo, as raparigas que engravidavam, atiravam-se a um poço. Ou bebiam veneno para ratos e tinham mortes horrorosas. Antigamente e agora, os doentes terminais que se mantinham em casa, sofriam a dor física da doença e a dor moral da incapacidade, de fazer as necessidades numa fralda, de depender totalmente de outrem para se alimentar, higienizar. Se for da vontade do doente terminar com a situação, só por sadismo se impede a tal ajuda para morrer. E de sádicos está o mundo cheio, encapotados por uma moral divina que oprime e subjuga em vez de redimir. Ora senhores moralistas, tomem essa decisão de morrer em agonia ( pois também há Sado masoquismo que tem prazer com a dor) e deixem em paz quem quer morrer serenamente....
ResponderEliminarEste artigo mostra uma grande prova de amor pelo nosso semelhante!!!!
ResponderEliminarParabéns ao escriba. É exactamente o que eu penso. Já passei pela situação de ter uma amiga a pedir-me que a ajude a morrer. Mas, em Portugal, eu seria um criminoso. Noutros países já não. Que estranha, esta dualidade...
ResponderEliminarExcelente texto e concordo plenamente. É uma questão humanitária oferecer a opção da Eutanásia. Bem como o aborto.
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