Este poderia ser apenas mais um texto alarmista sobre o dito cujo virus, mas quiseram os meus 2 neurónios (Tico e Teco) fazer as contas que aparentemente os nossos governantes (e os dos outros) ainda não fizeram.
Um estudo, recentemente publicado por um professor de finanças do Instituto de Estudos Sociais e Económicos, traça 3 cenários económicos para Portugal conforme a duração deste AIT económico (acidente isquémico transitório). No cenário optimista o PIB cai 4% e o desemprego sobe para 8,5%. No cenário intermédio o PIB cai 10% e o desemprego sobe para 10%. No pior cenário o PIB cai 20% e o desemprego atinge 13,5%.
Para terem uma ideia, 4,5% do PIB são cerca de 10 mil milhões de euros, qualquer coisa como todo o orçamento do estado para a saúde em 2019 (actualmente são cerca de 11 mil milhões). Isto são apenas as perdas do PIB. A somar a isto há todos os apoios que serão prestados ás empresas, actualmente no valor claramente insuficiente de 3 mil milhões. Ou seja, assim como quem não quer a coisa, num cenário optimista isto vai custar-nos pelo menos 13 mil milhões de euros. Este é o custo, da falta de preparação...
Andamos agora a comprar ventiladores à pressa, a expandir e equipar unidades de cuidados intensivos, "a criar hospitais de campanha", a recrutar médicos e enfermeiros e outros profissionais de saúde. Faz-me sempre lembrar a história do seguro automóvel. Fazemos um seguro contra terceiros, porque é mais barato, e esquecemos que no dia em que o carro levar uma cacetada à seria, gostaríamos de ter feito um seguro contra todos os riscos...
Então não teria sido mais sensato, preparar o serviço nacional de saúde ao longo dos anos? Quantos hospitais e unidades de cuidados intensivos e centros de saúde poderíamos ter construído com 13 mil milhões de euros ??? Dezenas... que teriam servido melhor a população no dia-a-dia, e nos garantiriam um elevado estado de preparação para quando a desgraça acontece... e pronto, nem vou falar no próximo sismo de Lisboa. A realidade é esta, temos 4,2 camas de cuidados intensivos por cada 100.000 habitantes quando a mediana europeia é 11,5 por cada 100.000, e no extremo temos a Alemanha com 29,2. Poderíamos ter no mínimo o dobro, se o dinheiro fosse bem utilizado.
Mas a questão que está verdadeiramente aqui a baralhar o Tico e o Teco é outra: qual é a taxa de letalidade que nos faz mudar procedimentos, rotinas, e nos coloca a todos em casa ???
Não é uma questão nada simples. A gripe matou em Portugal 3000 pessoas o ano passado. Poderíamos ter evitado estas 3000 mortes se tivéssemos lavado as mãos, ficado em casa e colapsado a economia, mas não o fizemos. Talvez porque influenza já é um título batido e a comunicação social não lhe pega... este era novo, tem direito a telejornais inteiros. O número de mortos em Portugal, pelo dito cujo, conta-se no momento pela meia centena. Imagino que não chegará nem perto dos 3000... e agora? O que faremos na próxima época de gripe?
E já agora, da próxima vez que pensarem em (des)investir na saúde, lembrem-se do CORONA...o País agradece, o pessoal de saúde agradece, o turismo agradece, os desempregados agradecem... e os pais dos alunos em casa também.