Mais um admirável texto da minha amiga Bárbara, despertou em mim uma necessidade incontrolável de prestar alguns esclarecimentos em relação a algumas das séries médicas que habitam os nossos canais televisivos. Aparentemente a televisão descobriu que o comum dos mortais, que abomina hospitais e tudo o que tenha a haver com eles, entretém-se a ver séries passadas em hospitais. Vá-se lá compreender o comum dos mortais e os seus devaneios...a psicologia humana é uma teia muito densa.
Dr House
Resumo: Um médico internista cinquentão, coxo e toxicodependente, tem um affair com uma administradora hospitalar (razão pela qual mantém o seu emprego) e é confrontado com casos que não lembram nem ao diabo. Está assessorado por um conjunto de marrões, também eles internistas, que além de acharem que a Granulomatose de Wegner, o Lupus Eritmatoso Disseminado a Porfiria ou a Sarcoidose são sempre diagnósticos prováveis, conseguem inverter todo o fluxograma diagnóstico partindo dos exames mais complexos para os menos complexos saltando outros fundamentais. Esta esquizofrenia diagnóstica, agrava-se quando se percebe que são eles próprios que realizam estes exames, tipo biópsias cerebrais, ressonâncias magnéticas e cateterismos cardíacos. Na dúvida, os doentes levam com provas terapêuticas de tuberculostáticos, anti-retrovirais ou até quimioterapia !
Credibilidade da série de 0 a 10: -1 Como é óbvio os internistas não dormem com administradoras hospitalares.
Anatomia de Grey

Credibilidade da série de 0 a 10: 1 Como é óbvio, é tudo uma questão de sexo e não de diagnósticos ou terapêuticas.
E.R.
Resumo: Para quem gosta de um mínimo de realismo em relação ao trabalho no Serviço de Urgência.
Bons casos, bons fluxogramas diagnósticos e boas opções terapêuticas.
Credibilidade da série de 0 a 10: 8 Pela quase ausência de sexo.
Ponto comum. Na maioria das séries televisivas passadas em hospitais, há uma sala de médicos, com alcatifa e caminhas e candeeiros de cabeceira e camas e lençóis onde acontece de tudo um pouco incluindo sexo. Isto porque os internos americanos chamam-se "residents" ou seja, passam tanto tempo no hospital que praticamente residem por lá. Em portugal os médicos são "homeless", trabalham nos hospitais, mas ninguém os quer por lá. Portanto, sexo na sala dos médicos seria como sexo num parque de estacionamento de um aeroporto... exigiria uma química quase transcendental entre os dois...e uma física, tipo nuclear, explosiva... Já para não falar da abstracção necessária ao movimento de passageiros e aos diversos anúncios das partidas e chegadas... Isto pertence portanto ao reino da fantasia. Em Portugal, a cena mais escabrosa que se poderá encontrar numa sala de médicos são 7 ou 8 pessoas assexuadas, semi-deitadas ou semi.sentadas, em cadeirões desconfortáveis, alinhados contra a parede, a partilhar odores corporais e a roncar descompassadamente ás quatro da manhã. É isto, e pouco mais.
A comunidade swinger anglo-saxónica (os das trocas de casais, não os da música) tem um termo delicioso para descrever uma mulher single que se queira envolver com outros casais, chamam-lhe o Unicórnio, porque é tão raro que praticamente pertence ao reino da fantasia. Eu acho que este pessoal da televisão anda a vender-nos Unicórnios... e a este respeito só me ocorre uma ideia, se um dia estiverem na baixa da cidade e ouvirem cascos a soar no asfalto...o mais provável é serem cavalos ou burros, eventualmente zebras, mas dificilmente serão Unicórnios. Não quer dizer que não os haja... Mas quem já viu algum ? Portanto desfaça-se o mito.